Melatonina não é remédio para dormir nem suplemento, mas é essencial para o sono; veja 6 pontos sobre o hormônio
-
Criado por: Rádio Bom Jesus
-
Postado em: 24/03/2023
Você já ouviu alguém falar que toma melatonina para dormir? Por vezes, ela é vista como um remédio, mas a melatonina é, na verdade, um hormônio produzido pelo nosso próprio organismo. Em algumas situações, o que ocorre é a suplementação desse hormônio. Mas atenção: ela só deve ser tomada com orientação médica.
Outro erro quando o assunto é melatonina é classificá-la como hormônio do sono. A melatonina é o hormônio que prepara o nosso corpo para dormir. Essa produção é sempre noturna. Por isso, ela pode ser considerada um hormônio da escuridão.
"A melatonina só é produzida na ausência de estímulo luminoso. Ela informa o nosso corpo de que é noite e que o processo de dormir pode ser iniciado", diz Sandra Doria, pesquisadora do Instituto do Sono.
José Cipolla Neto, professor de fisiologia no Instituto de Ciências Biomédicas da USP e pesquisador sobre os efeitos fisiológicos e mecanismos de ação da melatonina, explica que a substância é responsável por todas as mudanças no nosso corpo para o período de repouso.
"Ela sinaliza para o nosso sistema nervoso, portanto, o nosso organismo como um todo, que acabou o dia e começou a noite. Ou seja, ela é a grande responsável por todas as mudanças fisiológicas do nosso organismo para o período diário de repouso – sono, mudanças metabólicas, cardiovasculares, respiratórias, digestoras, endócrinas e imunológicas, todas elas típicas do repouso humano".
A melatonina teve a comercialização liberada no Brasil em 2021 pela Anvisa. Ou seja, a substância pode ser encontrada em farmácias e ser vendida sem a necessidade de prescrição médica. De acordo com a Anvisa, ela está liberada para pessoas com idade igual ou maior que 19 anos e para o consumo máximo diário de 0,21 mg.
Especialistas reforçam que, mesmo com a venda liberada no país, a melatonina só deve ser usada com indicação médica.
O que é a melatonina e como ela é produzida?
A melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal, uma estrutura que fica bem no centro do cérebro. A escuridão faz com que essa glândula comece a produzir melatonina, enquanto a luz faz com que essa produção pare.
O papel da melatonina é sinalizar para os órgãos humanos que a noite chegou e preparar o organismo para adormecer. Ela é a grande responsável por todas as mudanças fisiológicas do nosso corpo para o período diário de repouso – sono, mudanças metabólicas, cardiovasculares, respiratórias, digestoras, endócrinas e imunológicas.
A produção de melatonina é interrompida ao raiar do dia. Isso prepara o corpo para despertar e se preparar para atividades diárias. Enquanto a melatonina é produzida normalmente, ela garante um sono saudável.
O pico máximo de produção ocorre em torno das 2h, 3h da madrugada, variando de pessoa para pessoa.
A melatonina criada dentro do corpo é conhecida como melatonina endógena, mas o hormônio também pode ser produzido externamente. A melatonina exógena é normalmente produzida sinteticamente em laboratório e vendida como comprimido, cápsula.
Alguns fatores podem interferir e até bloquear a produção da melatonina: a luz (principalmente a azul, proveniente dos celulares, tablets e televisão), remédios e a idade, pois a produção de melatonina cai com o passar dos anos.
Para quem a melatonina é indicada?
Estudos já apontaram que a melatonina pode melhorar o sono em certos casos, mas seu uso deve ser feito apenas com recomendação de um especialista. "Não se deve tomar melatonina a não ser que seja preciso. Além disso, a dosagem, formulação, horário da administração, tudo deve ser rigorosamente controlado", alerta Cipolla.
"Sabemos hoje que jovens produzem mais melatonina e que com o passar da idade existe uma redução de produção. Também sabemos que betabloqueadores reduzem a produção de melatonina, que diabéticos e pessoas com obesidade também produzem menos", complementa Marcio Mancini, vice-presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Segundo Dalva Poyares, médica especialista em Medicina do Sono, a melatonina é indicada em algumas situações restritas: alguns pacientes com transtorno do espectro autista (TEA), pacientes com deficiência visual (ajuda a sincronizar o ritmo do sono-vigilía) e pacientes com distúrbio de ritmo circadiano (quando a liberação do hormônio ocorre fora do ritmo normal).
A melatonina é um suplemento alimentar?
Os especialistas ouvidos pelo g1 explicam que, apesar de a melatonina ter sido aprovada pela Anvisa como suplemento alimentar, ela é um NEUROHORMÔNIO e deve ser indicada de maneira racional.
"Não é porque ela pode ser encontrada em outros organismos vivos, como animais e plantas que a torna, para o ser humano, um 'suplemente alimentar'. No organismo humano, seja a produzida endogenamente, seja a ingerida terapeuticamente, ela funcionará como um hormônio,
com funções complexas e que devem ser rigorosamente controladas", reforça Cipolla.
"Apesar de ser vendida e estar nessa categoria, ela é um hormônio. Não é comum um hormônio ser considerado suplemento alimentar. Suplemento alimentar entra no gênero de aminoácidos, proteínas, vitaminas, sais minerais", completa Poyares.
Como estimular a melatonina do próprio organismo?
Expor-se a luz durante o dia (solar, de preferência)
Diminuir a intensidade da luz à noite (para ajudar na produção do hormônio)
Evitar computador, celulares e tabletes duas horas antes de dormir
Quais os riscos de tomar melatonina sem prescrição? E em excesso?
A melatonina em excesso pode quebrar a ciclicidade que existe nas 24 horas do dia. "Se eu tomar uma dose supra-fisiológica (elevada), essa dose pode prejudicar a queda natural de melatonina que ocorre pela manhã", ressalta Poyares.
Em altas doses e tomada sem orientação, a melatonina pode causar efeitos indesejáveis, como sonolência durante o dia, tontura, dor de cabeça, náuseas. Também pode provocar pesadelos, fadiga, falta de concentração.
"Nosso organismo tem muitos mecanismos que fazem com que a melatonina deixe de ser produzida e circule no nosso sangue assim que amanhece. Quando se toma uma melatonina farmacológica, a dosagem deve ser estudada para cada paciente de tal forma que o paciente, tomando-a de noite, antes de dormir, ao acordar não tenha mais nenhuma melatonina circulante. Não pode haver escape de melatonina circulante durante a manhã", alerta Cipolla.
Criança pode tomar melatonina?
Sim, mas somente em condições clínicas que indiquem a melatonina como tratamento e somente com orientação médica, alerta Cipolla.
No ano passado, a Academia Americana do Sono (AASM, na sigla em inglês) emitiu novas recomendações sobre a melatonina, pedindo que os pais evitem a administração do hormônio sem a indicação de um profissional.
Entre as medidas para ajudar na hora de dormir, a AASM sugere bons hábitos de sono, como:
Ter um horário regular para dormir e acordar
Ter uma rotina de dormir
Limitar o tempo de tela à medida que a hora de dormir se aproxima
"Embora a melatonina possa ser útil no tratamento de certos distúrbios do sono-vigília, como o jet lag, há muito menos evidências de que pode ajudar crianças ou adultos saudáveis a adormecer mais rápido", disse o pneumologista e especialista em medicina do sono e cuidados intensivos M. Adeel Rishi.
No Brasil, a Anvisa indica a melatonina para pessoas com idade igual ou maior que 19 anos. "Pessoas com enfermidades ou que usem medicamentos deverão consultar seu médico antes de consumir a substância", diz a agência.
Fonte - G1