A cada hora e quarenta minutos, uma menina ou mulher é vítima de estupro no Paraná


  • Criado por: Adriana Diniz
  • Postado em: 29/06/2022

O Paraná é a segunda unidade da federação com mais casos de estupro contra meninas e mulheres. É o que revelam dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), os quais apontam que apenas no ano passado mais de 5 mil ocorrências foram registradas no estado. Esse número é 2,8% maior que o registrado em 2020 e aponta ainda que uma paranaense é vítima de estupro a cada uma hora e 45 minutos, em média. 

Conforme o estudo "Violência contra mulheres em 2021", que considera os dados contidos nos boletins de ocorrências das Polícias Civis das 27 unidades da federação, no ano passado o Brasil registrou 56.098 estupros de meninas e mulheres. Após uma queda no primeiro ano de pandemia, quando o número de ocorrências passou de 61.531 (em 2019) para 54.116 (em 2020), esse tipo de situação voltou a ser registrada mais frequentemente em 2021, com alta de 3,7% na comparação com o ano anterior.

O estado paranaense, sozinho, foi responsável por 9% das ocorrências em todo o país, com um total de 5.025 registros no último período. Assim como ocorrera nacionalmente, o número de casos desse tipo de violência sexual chegou a cair de 2019 para 2020 (passando de 5.811 registros num ano para 4.889 no outro), mas já voltou a ganhar força no ano passado.

Nos três anos analisados o Paraná apareceu no levantamento como o segundo estado com maior número (absoluto) de ocorrências no país, atrás apenas de São Paulo (que registrou 11.684 casos em 2019, 10.487 em 2020 e 10.644 em 2021). Com relação à taxa de incidência dos estupros, ficou no ano passado na 8ª colocação, com 85,4 registros para cada 100 mil meninas ou mulheres. Trata-se um valor consideravelmente superior à taxa média nacional, de 51,8.

Diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno destacou em entrevista recente ao Estadão que aquilo que os registros oficiais demonstram sobre o estupro no Brasil é apenas a ponta do iceberg. “Existe uma subnotificação imensa”, diz a especialista.

Para piorar, desconfia-se que o isolamento social tenha contribuído para o crescimento dessa violência e que um grande problema é não ser possível ter noção dos números reais, porque a vítima pode estar em confinamento com o agressor e isso torna mais complicada a denúncia. Até por isso, a especialista acredita que o número possa ser até cinco vezes maior..

Crianças e adolescentes são as principais vítimas

Nos últimos 10 anos (entre 2012 e 2021) os serviços de saúde no Paraná emitiram 19.216 notificações de estupro no Paraná, revelam dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net), do Ministério da Saúde. Desses registros, 11.620 (60,5% do total) tinham jovens com até 14 anos de idade como vítima. Ou seja, as principais vítimas de estupro no estado são crianças e adolescentes, como ainda confirma a diretora do FBSP. 

"A maior parte dos estupros são em crianças e adolescentes, A pandemia confinou essas pessoas em casa e elas ficaram sem escola, então não tinha nem acesso a um profissional da educação que poderia perceber que ela estava sofrendo algum tipo de violência", desabafou Samira Bueno, destacando que, além da punição dos autores, é necessário também pensar no acolhimento dessas vítimas de violência sexual.”Precisamos ter um atendimento multidisciplinar para essas pessoas que sofreram violência. O que o Estado fez com essas meninas e mulheres que denunciaram? Que acompanhamento está sendo ofertado? Temos casos horrorosos recentes", disse.

Caso Klara Castanho volta a chamar a atenção para o problema 

Na semana passada o aborto legal foi muito debatido no país após o jornal The Intercept revelar o caso de uma menina de 11 anos vítima de estupro que havia sido impedida de abortar por um hospital de Santa Catarina e que vinha tendo dificuldade para conseguir exercer seu direito mesmo via Poder Judiciário. Já no final de semana, o tema do estupro, mais especificamente, ganhou repercussão após a atriz Klara Castanho revelar ter engravidado após ter sido estuprada e que entregou a criança a quem deu à luz por conta dessa violência para a adoção.

Em uma longa e emocionada carta que a artista de 21 anos publicou em suas redes sociais ela repudiou o vazamento da história e contou sobre a violência sofrida e suas consequências. No depoimento, revela ter sido abordada ainda no hospital por uma enfermeira, que ameaçou divulgar sua história. Logo em seguida um famoso colunista entrou em contato. "Minha história se tornar pública não foi um desejo meu", lamentou a atriz.

Pela lei brasileira, Klara teria direito a fazer um aborto legal, mas ela decidiu fazer uma entrega direta para adoção. Tal procedimento está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e permite que a gestante, tendo sido ou não vítima de estupro, entregue o filho para adoção em um procedimento assistido pela Justiça. Agora, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e os conselhos (estadual e nacional) de enfermagem investigam o vazamento dos dados sobre seu caso à imprensa.

Casos de estupro e estupro de vulnerável, ano a ano

(vítimas do gênero feminino)

Brasil

2021: 56.098

2020: 54.116

2019: 61.531

 

Paraná

2021: 5.025

2020: 4.889

2019: 5.811

 

Unidades da federação com mais registros de estupro e estupro de vulnerável em 2021

(vítimas do gênero feminino)


São Paulo: 10.644

Paraná: 5.025

Rio de Janeiro: 4.432

Minas Gerais: 3.889

Rio Grande do Sul: 3.469

Fonte - Bem Paraná