Cardeais brasileiros começam a embarcar para Roma para conclave

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Criado por: Rádio Bom Jesus
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Postado em: 23/04/2025
Parte dos cardeais brasileiros que participarão das cerimônias de despedida do papa Francisco e do conclave já embarcam em aviões para a Roma nesta terça-feira (22), segundo apuração da CNN. Ao todo, sete cardeais brasileiros têm direito a voto no conclave.
Fontes da Igreja Católica disseram à CNN que o cardeal Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), embarcou para Roma por volta das 12h e já está em trânsito.
Às 14h20, será a vez do cardeal Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, decolar. O voo será pela Ita Airways e sairá do Aeroporto Internacional do Galeão.
Ainda nesta terça-feira, embarca o cardeal Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador e considerado o brasileiro com maiores chances de se tornar papa. O horário do voo não foi confirmado à reportagem.
Já o cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo São Paulo, irá a Roma somente na quarta-feira (23). Segundo fontes, ele ainda está organizando os trabalhos da Arquidiocese, visto que se ausentará por vários dias.
O cardeal Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, embarca somente na quinta-feira (24), às 11h.
Já João Braz de Aviz, que ocupa cargo no Vaticano, de prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, não deve precisar se deslocar.
A CNN tentou contato com o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus. Não houve resposta até a última atulização desta reportagem.
O Vaticano ainda não informou oficialmente o calendário de homenagens e do conclave, mas os cardeais brasileiros se organizam para chegar a tempo da Missa de Exéquias, que deve ser realizada no final de semana, marcando o fim do funeral.
Na próxima semana, o Vaticano deve realizar a Congregação Geral, uma reunião em que os cardeais discutem os rumos que a Igreja deve tomar.
A norma canônica estabelece que o conclave precisa começar até 20 dias depois do velório do papa.
Conheça abaixo os cardeais brasileiros que participarão do conclave:
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arquidiocese de São Paulo (SP)
Nascimento: 21/09/1949
Idade: 75
Cidade de origem: Cerro Largo (RS)
Nomeado cardeal por: Bento XVI
Cardeal João Braz de Aviz
Emérito de Brasília (DF) e da Congregação para a Vida Consagrada – Vaticano
Nascimento: 24/04/1947
Idade: 77
Cidade de origem: Mafra (SC)
Nomeado cardeal por: Bento XVI
Cardeal Orani João Tempesta
Arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ)
Nascimento: 23/06/1950
Idade: 74
Cidade de origem: São José do Rio Pardo (SP)
Nomeado cardeal por: Francisco
Cardeal Sergio da Rocha
Arquidiocese de Salvador (BA)
Nascimento: 21/10/1959
Idade: 65
Cidade de origem: Matão (SP)
Nomeado cardeal por: Francisco
Cardeal Paulo Cezar Costa
Arquidiocese de Brasília (DF)
Nascimento: 20/07/1967
Idade: 57
Cidade de origem: Valença (RJ)
Nomeado cardeal por: Francisco
Cardeal Leonardo Steiner
Arquidiocese de Manaus (AM)
Nascimento: 6/11/1950
Idade: 74
Cidade de origem: Forquilhinha (SC)
Nomeado cardeal por: Francisco
Cardeal Jaime Spengler
Arquidiocese de Porto Alegre (RS)
Nascimento: 06/09/1960
Idade: 64
Cidade de origem: Gaspar (SC)
Nomeado cardeal por: Francisco
Entenda como funciona o conclave que escolhe o novo papa da Igreja Católica
Durante séculos, os líderes da Igreja Católica Romana foram escolhidos no Vaticano em reuniões privadas conhecidas como conclaves.
O processo e a votação, que geralmente acontece nos dias após a morte ou renúncia de um papa, envolve muito segredo. O ritual remonta ao século XIII, quando as eleições papais podiam durar anos e alguns cardeais já chegaram a morrer durante o processo exaustivo.
Primeiro, o que é um conclave?
A palavra conclave vem do latim “cum clavis” que significa fechado com chave e se refere à prática de confinar os cardeais para permitir que eles escolham um novo papa sem interferência externa.
A seleção de um novo papa é um processo de votação antigo e altamente secreto. Para evitar lobby externo e garantir que os cardeais sejam livres para escolher quem eles acham que é o melhor homem para o trabalho, os conclaves acontecem em estrita confidencialidade, com os participantes “isolados” do mundo.
Eles são proibidos de falar com qualquer pessoa fora do processo, o que pode levar vários dias. Também não podem ler relatórios da mídia ou receber mensagens.
Afinal, quem pode ser papa?
Tecnicamente, qualquer homem “católico romano” pode ser eleito papa. O especialista em Vaticano da CNN, John Allen, explica que qualquer pessoa elegível para ordenação ao sacerdócio católico – portanto, um homem solteiro – poderia ser eleito papa.
Apesar disso, desde 1379, o papa sempre é eleito entre os cardeais do Colégio de Cardeais, o grupo que vota no conclave, restrito também àqueles com menos de 80 anos.
Muitos dos cardeais são bispos e arcebispos nomeados pelo papa para auxiliar em questões religiosas. Alguns trabalham no Vaticano, mas a maioria está espalhada pelo mundo administrando dioceses ou arquidioceses.
Quando chega a hora do conclave, todo cardeal com menos de 80 anos viaja para Roma para participar da reunião, pois o voto é presencial.
O conclave não deve começar antes de 15 dias, nem depois de 20 dias, após a morte do papa — isso significa que no caso do falecimento de Francisco, a expectativa é que ele deve ocorrer entre os dias 6 e 11 de maio.
Funcionamento do processo da votação
Depois que os cardeais chegam ao Vaticano, o conclave começa com uma missa matinal especial na Basílica de São Pedro. Eles caminham até a Capela Sistina para começar o processo da eleição.
A votação é realizada a portas fechadas, e o sigilo é rigorosamente guardado. A capela é verificada em busca de câmeras e microfones escondidos, e os cardeais não têm permissão para falar sobre os procedimentos com ninguém de fora do grupo. Se o fizerem, podem ser excomungados.
O jornalista Jonathan Mann explicou para a CNN Internacional os rituais que acontecem dentro da Capela Sistina. A votação acontece em cédulas de papel distribuídas a cada cardeal, que escreve o nome do candidato escolhido abaixo das palavras em latim “Eligo in Summun Pontificem” (“Eu elejo como pontífice supremo”).
Pela regra, os cardeais não podem votar em si próprios e os votos são anônimos.
Quando terminam, cada cardeal — em ordem de senioridade — caminha até um altar para colocar cerimoniosamente sua cédula dobrada em um cálice. Os votos são então contados e o resultado é lido para os cardeais.
Se um cardeal receber dois terços dos votos, ele se torna o novo papa.
Segundo um documento do Vaticano sobre os procedimentos do conclave, o primeiro dia é reservado para missas e orações. Caso elas sejam finalizadas pela tarde, já pode ser realizada uma votação no mesmo dia.
Se nenhum cardeal receber o número de votos necessário para ser eleito papa, serão feitas até quatro votações por dia nos dias seguintes — duas pela manhã e duas à tarde.
O processo pode se repetir até o terceiro dia de conclave. Se ao final deste dia ainda não houver uma definição, o quarto dia será reservado para uma pausa para oração e discussão.
Filipe Domingues, vaticanista e doutor pela Pontifícia Universidade Gregoriana, explica que as orações são momentos importantes do conclave. “É uma eleição que coloca em jogo também a vontade de Deus, e o processo começa sempre com oração, eles têm missa, eles rezam muito pedindo para que Deus oriente essa escolha”, afirma em entrevista à CNN.
Na sequência, o processo pode continuar por mais sete rodadas de votação, da mesma maneira que no início do conclave. Depois disso, há outra pausa para orações e, na sequência, as votações são retomadas de novo.
Entretanto, dos últimos 11 conclaves realizados, nenhum durou mais do que quatro dias, de acordo com a diocese de Providence, Rhode Island, dos Estados Unidos.
O professor, historiador e teólogo Gerson Leite de Moraes explica ainda que, apesar das regras, elas são apenas um guia, e no processo do conclave existem rituais que “não seguem necessariamente a lógica do relógio”.
“Você pode até ter é a previsão legal de quatro escrutínios, dois de manhã e dois à tarde, mas pode ser que em um desses escrutínios você já tenha a solução”, ele afirma em entrevista à CNN.
O professor acrescenta que “é tudo uma questão regimental porque os fiéis católicos acompanham tudo de perto, há uma atenção especial em relação a cada votação que é realizada esperando a fumaça branca ou preta”.
Fumaça branca indica resultado
Não se pode entrar na Capela Sistina, porém fiéis e jornalistas ficam sabendo do resultado por meio da cor da fumaça que sai do telhado do Vaticano.
As cédulas são queimadas após as votações, uma vez pela manhã e uma vez à tarde.
Caso um papa não tenha sido escolhido, as cédulas são queimadas junto com um produto químico que deixa a fumaça preta.
No entanto, se a fumaça que sair do telhado for branca, isso significa que os católicos do mundo terão um novo chefe da Igreja.
O momento é sempre de muita festa para os milhares de fiéis que esperam o processo no Vaticano.
Tradicionalmente, cerca de 30 a 60 minutos após a fumaça branca, o novo papa aparecerá na sacada com vista para a Praça de São Pedro.
O novo pontífice então falará brevemente e fará uma oração. Dias depois da eleição, o papa assume formalmente o cargo.
Os dois últimos papas foram empossados na Catedral de São Pedro.
Com informações da Reuters e da CNN Internacional.