Transtorno de ansiedade generalizada (TAG), o que é?


  • Criado por: Adriana Diniz
  • Postado em: 16/06/2022

Todo mundo já sentiu aquele friozinho na barriga antes de um acontecimento muito esperado ou importante demais. Aquela sensação que até causa certa expectativa boa. Ou, menos positivamente falando, todos nós também já passamos por momentos de estresse intenso, capaz de provocar uma resposta ao estresse causado no corpo.

Em ambos os casos, reagir assim é considerado absolutamente normal, sendo fruto de um mecanismo de defesa que entra em ação para que fujamos ou enfrentemos uma potencial ameaça ou desafio. É aquilo que chamamos de ansiedade “boa” ou o famoso nervosismo, que é uma condição temporária e se resolve assim que o estresse acaba.

A ansiedade é parte do nosso comportamento, sendo aceitável e até necessária. Se vivenciada de forma saudável e funcional, por nos manter atentos e nos ajudar a encarar e a resolver várias questões do dia a dia, impulsiona-nos a evoluir e a nos adaptar.

O problema é quando essa reação é exacerbada, quando o medo e a reação são desproporcionais ou ocorrem sem que nenhuma situação concreta esteja, de fato, colocando-nos em risco real. É o chamado transtorno de ansiedade generalizada (TAG), sobre o qual nos aprofundaremos neste artigo.

O que é o transtorno de ansiedade generalizada (TAG)?

O TAG é um distúrbio que se caracteriza por excesso de preocupação e expectativa apreensiva não temporárias e de difícil administração. É uma doença classificada pelo Manual de Classificação de Doenças Mentais, sendo um dos cinco tipos de transtornos de ansiedade catalogados pelos médicos.

Desde que a humanidade existe, a ansiedade faz parte do nosso cotidiano. Desde as épocas em que caçávamos ou coletávamos alimentos – vivendo sob a ameaça de predadores e inimigos ou escassez de comida –, passando por invasões de outros povos, urbanização e explosão demográfica, chegando até as preocupações do mundo moderno.

Embora a ideia de que falar de ansiedade é falar da história da humanidade, o termo “ansiedade” com o sentido de doença só começou a ser usado no início do século XVII, antes mesmo de se falar em “Psiquiatria” (que só surgiu mais tarde, em 1808), porém era uma condição considerada “doença do nervo” (daí o termo “neurose”), dissociada do estado mental, fato que só passou a ser cogitado nos primeiros anos do século XIX.

O que podemos entender sobre o transtorno de ansiedade é que, mesmo não estando mais na realidade dos perigos que nossos ancestrais vivenciaram, ainda assim cabe ressaltar que os gatilhos para a ansiedade não advêm somente de riscos potenciais – sejam eles concretos, sejam eles projeções de probabilidades ruins ou apreensivas. Hoje em dia, os estímulos a que somos expostos são muitos e constantes – as redes sociais estão presentes para corroborar isso.

Os efeitos da ansiedade patológica podem ser devastadores em todos os aspectos, pois ela pode causar uma série de eventos prejudiciais ao organismo – como sobrecarregar o coração, elevar a pressão arterial, causar problemas como acne, dores de cabeça e alergias cutâneas.

E, por se tratar de uma doença persistente e de difícil controle, a ansiedade mina a qualidade de vida de uma pessoa. Pode até mesmo ser totalmente incapacitante, dados os prejuízos cognitivos que causa. Veremos mais adiante os sintomas e as complicações que essa doença traz para a vida de quem é acometido.

Causas e sintomas do transtorno de ansiedade generalizada (TAG)

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2019, só no Brasil são mais de 18 milhões de pessoas sofrendo de algum tipo de transtorno de ansiedade, número que faz do Brasil o campeão mundial da doença.

Cada pessoa é uma pessoa e os distúrbios emocionais têm grande relação com a particularidade de cada um, entretanto podemos destacar aqui algumas das principais causas, ou melhor definindo, fatores de risco para o transtorno de ansiedade generalizada:

Genética;

Gênero (as mulheres são as mais afetadas);

Eventos traumáticos ocorridos na infância – também na adolescência e, até mesmo, na vida adulta (como doenças graves, estresse ambiental, violência familiar, abusos psicológicos, entre outros);

Problemas externos, como insegurança financeira, perda de emprego, separação, luto, assalto etc.;

Abuso de substâncias como álcool, cafeína, alguns fármacos e tabaco;

Condições médicas, como efeitos colaterais de alguns medicamentos ou doenças da tireoide, por exemplo;

Como vimos mais acima, os números do TAG no Brasil são consideráveis, portanto não é incomum que você já tenha se deparado com uma pessoa ansiosa – ou mesmo você seja essa pessoa –, então já deve conhecer alguns dos sintomas mais comuns do transtorno. Ainda mais se formos analisar os anos de 2020 e 2021, devido ao auge da pandemia de Covid-19 e seus efeitos nas emoções das pessoas no mundo inteiro.

Geralmente, a ansiedade vem associada a outras doenças psíquicas, como a depressão. E identificar os sintomas como sendo da ansiedade pode ser algo complexo, visto que existem os sintomas ansiosos, que não são propriamente o transtorno. Além do mais, grande parte deles também está associada a outras doenças físicas – é o caso de tonturas, enjoos, falta de ar e aceleração dos batimentos cardíacos, que podem estar relacionados a outras doenças.

É por isso que é essencial estar em dia com os exames físicos e, na ocorrência mais frequente de sintomas associados à ansiedade (que vamos listar mais à frente), é necessário buscar a ajuda médica. Apenas o profissional especializado – como o psiquiatra ou psicólogo – pode fechar o diagnóstico dessa doença.

De todo modo, entre os sintomas mais usuais do transtorno de ansiedade generalizada, podemos destacar os seguintes:

Sintomas físicos:

suor excessivo;

falta de ar e/ou hiperventilação (respiração ofegante);

ondas de calor;

calafrios e tremores;

dor no peito, podendo acompanhar taquicardia (batimentos acelerados);

tontura ou vertigem, podendo haver sensação de desmaio iminente;

náuseas ou “borboletas no estômago”;

tensão ou dor muscular;

dor de cabeça;

alterações na visão, podendo vir com espasmos oculares;

lacrimejamento ou secura dos olhos;

micção frequente e/ou dor de barriga;

Como é uma doença que também traz aspectos particulares, pode haver outros sintomas típicos de cada um, mas, como já dissemos, é imprescindível a consulta médica detalhada, para descartar qualquer outra enfermidade que, porventura, partilhe os mesmos sinais.

Sintomas psicológicos, cognitivos e sociais:

medo inexplicável;

pensamentos intrusivos (que podem envolver preocupações com desgraças, catástrofes, morte, doença, perda de emprego, entre outras);

oscilações de humor, irritabilidade e inquietação;

insônia;

dificuldade de concentração e problemas de memória;

sensação de que está sonhando, como se não estivesse no próprio corpo;

dificuldade de iniciar e manter uma conversa;

preocupação excessiva com a opinião alheia;

medo de desagradar, levando a não saber dizer não;

visão predominantemente pessimista;

bloqueio e paralisação;

hiperatividade motora;

hábito de roer unhas ou outro que funcione igualmente como válvula de escape.

 

Há outros vários sintomas, a exemplo dos físicos, que também poderão variar de acordo com cada pessoa. Importante aqui também buscar um diagnóstico conclusivo, para que não haja confusão com outras doenças psíquicas, como o transtorno bipolar.

Um estudo publicado em julho de 2020 pela Universidade de Trento (Itália) no periódico Scientific Reports, da revista científica Nature, mapeou como os diferentes tipos de ansiedade impactam cada área do cérebro. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que há duas formas de manifestação: o estado de ansiedade (proveniente de eventos estressantes) e o traço de ansiedade (referente a pessoas naturalmente ansiosas).

O intuito desse estudo foi entender melhor como funciona o mecanismo da doença e buscar tratamentos direcionados, que poderão atender especificamente cada problema. São achados que podem também viabilizar um diagnóstico mais preciso e um tratamento mais eficiente, visando inclusive atenuar os sintomas desse transtorno antes que eles se tornem crônicos.

 

 Fonte - Eu sem fronteiras