'Vou resistir até minha última gota de sangue', diz líder indígena sobre queimadas no Amazonas


  • Criado por: Adriana Diniz
  • Postado em: 24/08/2019

A floresta amazônica tem sido observada pelo mundo nos últimos dias enquanto focos de incêndio são registrados na região. Enquanto isso, indígenas que moram no Amazonas têm assistido à destruição de seus lares. "Vou resistir até minha última gota de sangue", disse o líder indígena Raimundo Mura.

 Só em agosto deste ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados mais de 5,3 mil focos de incêndio no Amazonas.

 "É uma praga", diz Raimundo. "Você está vendo as vidas (dessas árvores) desperdiçadas ali. Todas essas árvores tinham vidas, elas todas precisavam viver, cada uma no seu lugar. Você consegue ver o dano. É o objetivo do homem branco acabar com isso", afirmou.

 A tribo Mura tem uma longa história de resistência na Amazônia. Durante o período colonial, eles resistiram contra a cultura portuguesa e sobreviveram a epidemias. Hoje, existem cerca de 15 mil índios Mura no Brasil que tiveram acesso a uma área especial para pesca e extração de produtos da floresta - da mesma forma que seus ancestrais fizeram por gerações. Agora, eles temem que sua tradição esteja enfrentando a maior ameaça possível: a destruição da Amazônia.

 "O que está sendo feito aqui é uma atrocidade contra a gente. Ninguém esperava que isso fosse acontecer, mas está acontecendo e nós sentimos muito (os efeitos). Durante os anos, nós resistimos aqui, quando não havia acesso por rodovia, quando a eletricidade chegou, quando a invasão aconteceu", contou.

O número de incêndios aumentou em 82% em comparação ao registrado no mesmo período no ano passado. Dentro da Amazônia Legal, o Amazonas é o terceiro colocado em casos de queimadas registrados de janeiro a agosto. Além disso, dados do Inpe mostram que a Amazônia concentra 52,5% dos focos de queimadas de 2019.

Segundo cientistas, a proteção da área é essencial na luta contra as mudanças climáticas. "Nós estamos tristes porque a floresta está morrendo a cada momento. Nós sentimos que a mudança de clima e o mundo precisa da floresta. Nós precisamos e nossas crianças também", explicou.

Repercussão internacional

Nesta quinta-feira (22), o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou em post no Twitter que a cúpula do G7 precisa discutir as queimadas na Amazônia. O encontro está previso para acontecer neste fim de semana, em Biarritz, no sudoeste francês.

"Nossa casa queima. Literalmente. A Amazônia, o pulmão de nosso planeta, que produz 20% de nosso oxigênio, arde em chamas. É uma crise internacional", escreveu.

 Horas depois, em resposta, o presidente Jair Bolsonaro disse que o Macron "evoca mentalidade colonialista descabida no século XXI".

Após apontar ONGs como principais suspeitos de darem início aos incêndios, o presidente realizaou pronunciamento nacional na noite de sexta-feira (23) para apresentar medidas do governo a fim de conter as queimadas na Amazônia. Uma dessas medidas é a assinatura de um decreto instituindo a Garantia da Lei e da Ordem Ambiental (GLOA) para ajudar os Estados da região nas ações de combate ao fogo na floresta.

Ainda nesta sexta, Bolsonaro assinou um decreto no qual autorizou o uso das Forças Armadas no combate a queimadas na Amazônia. O documento determina que o uso dos militares depende de requerimento dos governadores dos estados da região.

Desmatamento

A extensão do desmatamento no Amazonas também chama atenção. Entre 2013 e 2018, mais de 4,6 mil km² foram desmatados no Estado. Os dados foram obtidos por meio do projeto Deter-B - ferramenta do Inpe que analisa, quase em tempo real, desmatamentos e alterações na cobertura florestal.

 Os municípios do Amazonas que possuem altos índices de focos de queimadas também têm índices elevados de desmatamento. Lábrea, por exemplo, é o quarto município do país com maior nível de desmatamento acumulado entre os anos de 2013 e 2018 - com 1,4 mil km².

Foto: Queimadas na Amazônia - Foto aérea mostra fumaça em trecho de 2 km de extensão de floresta, a 65 km de Porto Velho, em Rondônia, em 23 de agosto de 2019 — Foto: Carl de Souza/AFP

 Texto extraído do G1