Dia Nacional da Mulher: o que está por trás do 30 de abril e por que a data é ‘esquecida’


  • Criado por: Adriana Diniz
  • Postado em: 30/04/2022

O dia 30 de abril costuma passar despercebido pela maioria das pessoas, porém a data tem um significado especial. O dia foi instituído pela Lei 6.781, de 1980, como o Dia Nacional da Mulher.

Data valoriza luta nacional

Analista de cultura FCC ( Fundação Carlos Chagas) e historiadora, Lisa Macedo Pinheiro, fala sobre o momento em que essa data foi criada e como ela influenciou essa busca pela valorização nacional.

“A época em que essa data foi escolhida foi um momento em que o país buscava uma certa nacionalização. O interesse em instituir essa data surgiu no momento em que o governo brasileiro queria fugir da relação com datas internacionais e pensar de forma mais ‘patriota’, de acordo com o momento político que o Brasil estava vivendo”, explica Lisa.

Quem foi Jerônima

Jerônima Mesquita foi uma enfermeira brasileira com atuação na Cruz Vermelha de Paris e da Suíça. Ela participou da fundação da Cruz Vermelha no Brasil e da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino.

Lutou pelo direito ao voto feminino e participou ativamente do movimento sufragista de 1932. Mais tarde, participou da criação do Conselho Nacional das Mulheres, que inspirou a criação de diversas comissões femininas pelo país, muitos anos depois.

“Jerônima, mesmo rebelde, fazia parte de uma elite dominante, o que também pode ter levado à escolha da homenagem da data ser no dia do seu aniversário”, comenta Lisa.

O Dia Nacional da Mulher não é tão conhecido comercialmente, pois tem um cunho muito mais político, não sendo devidamente difundido no país. Diferente do Dia Internacional da Mulher que, por levantar debates em âmbito mundial, tem maior destaque.

“Por essa data ser tão ligada a uma época que lembra tantos conflitos históricos, a escolha de não comemorar pode ter sido uma maneira de não dar mais evidência, após a queda do regime militar”, ressalta a historiadora.

Em 1932, as mulheres passaram a ter direito a voto no Brasil. Porém, antes disso, o Estado do Rio Grande do Norte, em 1927, tornou-se o primeiro Estado brasileiro a aprovar uma lei garantindo o direito das mulheres ao voto.

“Hoje existe muita reflexão sobre as datas comemoradas. Muitos desses momentos da história estão sendo repensados, questionados. O Dia Internacional da Mulher tem muita visibilidade, pela questão de movimentar mais pessoas, mais organizações, como a ONU (Organização das Nações Unidas) e ter relações com países dominantes mundialmente”, finaliza a pesquisadora.

Relembrar ou não?

A advogada Rejane Sanchez, que integra a Comissão Nacional de Mulheres da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), lembra a importância da luta pelos direitos femininos que devem ser sempre reforçadas.

“Acho que pela época em que essa data foi criada, ela pode ter ficado apagada. Porém, é importante que esse dia seja lembrado e que nós mulheres possamos nos apoderar da nossa história e usar esse dia para celebrar nossas vitórias e também relembrar nossas lutas”, diz Rejane.

Apesar dos avanços, a luta das mulheres por igualdade de direitos ainda é atual e se reflete nos espaços de poder, onde os homens ainda ocupam a maioria absoluta dos cargos.

Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), elas representam quase 53% de todo o eleitorado brasileiro, mas, ainda assim, são a minoria nos cargos eletivos.

“Se formos analisar, no legislativo cerca de 15% dos espaços são ocupados por mulheres. Existe ainda uma representatividade ínfima de mulheres na política- comparada aos homens. Se olharmos para o executivo, o número é menor ainda”, ressalta a advogada.

Quando a data é esquecida, ela também tira a visibilidade sobre a história de mulheres que foram importantes nas lutas femininas e que possibilitaram que muitas outras pudessem ocupar lugares de destaque e participar de grandes tomadas de decisões.

Mesmo que a data não seja comentada, é importante lembrar que outras mulheres, grandes mulheres, existiram e lutaram pelos direitos que temos hoje. Viva Jerônima!