Acolhimento familiar reduz número de crianças e adolescentes em abrigos


  • Criado por: Adriana Diniz
  • Postado em: 24/07/2019

Acolhimento familiar reduz número de crianças e adolescentes em abrigos. O projeto desenvolvido no Paraná é exemplo para outros estados e países. O projeto começou por Cascavel a partir da mobilização do juiz auxiliar da Corregedoria geral  do Tribunal de Justiça do Paraná, Sérgio Luiz Kreuz. Acompanhe a entrevista com o juiz.

 

Estão abertas as inscrições para o III Congresso Internacional de Acolhimento Familiar, que será realizado de 13 a 15 de agosto, em Curitiba, no Teatro Positivo. Destinado a juízes, promotores, técnicos da Vara da Infância e Juventude, assistentes sociais, psicólogos, conselheiros tutelares, advogados, organizações não governamentais, estudantes e demais interessados no tema, o Congresso contará com a participação de especialistas do Brasil e do exterior.

 

“O acolhimento familiar ainda é pouco conhecido no Brasil”, explica Sérgio Luiz Kreuz, Juiz Auxiliar da Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), que além de idealizador do congresso é também palestrante: “Embora seja preferencial por lei, ainda temos apenas 5% das crianças acolhidas nessa modalidade. Por isso, a importância de um evento como esse para conscientizar sobre a importância do acolhimento familiar como forma de promover a convivência familiar e comunitária”. No Brasil, a maior parte das crianças e adolescentes em situação de risco está em acolhimento institucional em locais conhecidos como abrigos e casas-lares. Kreuz é hoje o juiz com maior experiência nessa modalidade de acolhimento: foi fundador e coordenador, até 2016, do Serviço de Acolhimento Familiar da cidade de Cascavel (PR), o maior do país.

 

O III Congresso Internacional de Acolhimento Familiar é considerado o maior e mais importante evento sobre o tema no Brasil. As inscrições custam R$ 350,00 e podem ser feitas até o dia 9 de agosto pelo link http://bit.ly/CONGRESSOACOLHIMENTO. Toda a programação de palestras, painéis e oficinas está disponível para consulta na página http://geracaoamanha.org.br/programacao.

 

Diversidade de palestrantes

 

Dentre os palestrantes internacionais estão os neurocientistas que coordenaram o “Programa de Intervenção Precoce de Bucareste”, pesquisa conhecida como “Órfãos da Romênia”, considerada o maior e mais importante estudo mundial sobre as consequências do abandono e da negligência para o desenvolvimento neurológico das crianças, especialmente na fase da Primeira Infância (até os 6 anos de idade).

 

Além deles, também estarão presentes os neurocientistas norte-americanos Dr. Charles Nelson (Universidade de Harvard), Dr. Nathan Fox, (Universidade de Maryland) e Dr. Charles Zeanah (Universidade de Tulane). Respeitados e premiados mundialmente, eles confirmaram cientificamente o que muitos educadores, psicólogos, pais e cuidadores já tinham percebido na prática: além de traumas psicológicos, o abandono nos primeiros anos de vida pode causar danos graves no desenvolvimento neurológico das crianças.

 

“Precisamos levar o tema do acolhimento familiar para uma discussão mais ampla”, afirma Sandra Sobral, palestrante do congresso e Presidente do Instituto Geração Amanhã (IGA), organização sem fins lucrativos que é uma das realizadoras do evento e tem o acolhimento familiar e a adoção como focos de trabalho. “Para mudar realidades, precisamos de informação e conscientização. Mudar a realidade das crianças acolhidas é promover uma sociedade mais justa, segura e humana”, completa.

 

A programação deste ano é bastante ampla e diversificada. A coordenadora do serviço de Cascavel, a assistente social e professora Neusa Cerutti, compartilha a rica experiência sobre acolhimento familiar e também o trabalho de capacitação com famílias acolhedoras. Outro nome de peso na área é Jane Valente, assistente social, doutora em serviço social e coordenadora do Plano da Primeira Infância de Campinas (SP), que vai abordar as metodologias do serviço como política pública. A autora de 13 livros e doutora em psicologia, Lídia Weber, também é presença confirmada com sua fala sobre o poder do vínculo e do afeto.

 

O papel do Ministério Público na fiscalização dos serviços de acolhimento familiar é o tema da palestra do promotor de justiça da Promotoria da Infância e Juventude de Cascavel, Luciano Machado de Souza. E o advogado e coordenador do Programa Prioridade Absoluta do Instituto Alana, Pedro Hartung, fala sobre uma Justiça acessível, amigável e sensível à Primeira Infância em casos de suspensão ou destituição do poder familiar.

 

Troca de experiências em acolhimento familiar

 

Uma novidade deste ano é a apresentação de experiências em acolhimento familiar de vários Estados, mostrando os desafios e as características locais de cada serviço. O congresso vai apresentar ações de acolhimento familiar de Cascavel (PR), Uberlândia (MG), Santo Ângelo (RS), São Bento do Sul (RS), Camapuã (MS) e Porto Velho (RO).

 

O evento é promovido pela Corregedoria-Geral do (TJPR), pelo Conselho de Supervisão dos Juízos da Infância e da Juventude (CONSIJ-PR), Associação dos Magistrados do Paraná (AMAPAR) e Instituto Geração Amanhã (IGA).

 

Oficinas

No último dia de Congresso, 15 de agosto, serão promovidas cinco oficinas – cada participante pode participar de um tema (escolhido no ato da inscrição).

 

Oficina 1 – “Tecendo a Rede de Proteção”

Por Maira Cabreira, Psicóloga – Gerente da Divisão de Proteção Social Especial – Seaso/Cascavel Professora no curso de Psicologia – Cascavel/PR

 

Oficina 2  – “Gestão Orçamentária e Financeira dos Serviços de Acolhimento Familiar”

Por Hudson Marcio Moreschi Junior, Secretário de Assistência Social da Seaso – Cascavel/PR

 

Oficina 3 – “Fortalecendo vínculos, ressignificando a vida: prevenção ao suicídio de crianças e adolescentes”

Por Rosa Maria Mesquita, Psicóloga – Fortaleza/CE

 

Oficina 4 – “O trabalho da equipe do serviço auxiliar da infância: a preparação para adoção de crianças e adolescentes no acolhimento familiar”

Por Christiane Pilch Pacini, Psicóloga do Tribunal de Justiça do Paraná – Cascavel/PR

 

 

O que é acolhimento familiar?

 

O acolhimento familiar é uma medida protetiva, temporária e excepcional, prevista em lei pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Trata-se de uma alternativa ao acolhimento institucional (abrigos e casas lares) para crianças e adolescentes em situação de risco social que foram afastados de suas famílias de origem por decisão judicial. Caracteriza-se pela transferência temporária dos direitos e deveres parentais dos pais biológicos para uma família acolhedora, previamente cadastrada, selecionada e vinculada a um serviço de acolhimento. Embora seja amplamente difundido nos Estados Unidos e Europa, ainda é pouco conhecido e aplicado no Brasil.