Quem é a favor, quem é contra: entenda o debate sobre a volta do futebol brasileiro no meio da pandemia


  • Criado por: Adriana Diniz
  • Postado em: 03/05/2020

A pressão do governo federal pela volta dos jogos de futebol e a sugestão da CBF do dia 17 de maio como data para o reinício dos campeonatos encontram resistência entre autoridades estaduais – do futebol e da saúde. Com a pandemia do novo coronavírus espalhada pelo Brasil, ainda sem chegar ao pico, tudo indica que não será possível tirar tão cedo do papel ou do discurso essas ideias de retorno aos gramados.

O GloboEsporte.com consultou as 27 federações e as 27 secretarias estaduais de saúde. As respostas variam em alguns aspectos, mas todas apresentam um ponto em comum: nenhum estado é capaz de garantir a realização de um jogo, mesmo sem torcida, na data mencionada pela CBF durante reunião com federações e clubes na semana passada. A maioria é contra estipular uma data para a volta do futebol. 

O caráter difuso da propagação do novo coronavírus, os diferentes efeitos em cada região do Brasil e a maneira distinta como cada estado reage tornam praticamente impossível estruturar uma resposta uniforme ao problema. Ao contrário: a confusão só colabora para adiar cada vez mais as tomadas de decisão.

Neste fim de semana, dos dias 2 e 3 de maio, deveria começar o Campeonato Brasileiro. A CBF e as federações acertaram que os estaduais têm que terminar antes – justamente por serem torneios que demandam deslocamentos menores e praticamente não exigem viagens de avião.

Brasília quer, boa parte do Brasil resiste

Na noite da última quinta-feira, o GloboEsporte.com revelou uma carta enviada pelo Ministério da Saúde aos clubes e à CBF. Tratava-se de uma resposta a um pedido da confederação para o ministério avaliar um protocolo médico para a volta das atividades. O documento do ministério deixa claro, em sua conclusão, que apoia a volta do futebol.

Reconhecendo que o futebol é uma atividade esportiva relevante no contexto brasileiro e que sua retomada pode contribuir para as medidas de redução do deslocamento social através da teletransmissão dos jogos para domicílio, este Ministério da Saúde é favorável ao retorno das atividades do futebol brasileiro, desde que atendidas todas as medidas apresentadas neste parecer.

Em outros trechos do documento, porém, o ministério faz ressalvas e afirma que não pode tomar essa decisão – que cabe a estados e municípios. E são justamente estados e municípios os entes que mais resistem a tomar qualquer medida que possa acelerar a volta do futebol.

Após a resposta positiva com ressalvas do ministério, o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, afirmou que a entidade consultou médicos e orientou o retorno das atividades mais no sentido de preparar o ambiente para quando houver possibilidade de voltar aos jogos do que propriamente estabelecer uma data para o reinício dos estaduais.

- Nesse momento, a retomada se dá em termos de treinamento. E nós acreditamos que, se treinarmos a partir do começo de maio, após 15 dias os atletas e as comissões técnicas estarão preparados para o retorno às competições. Mas isso vai depender da evolução da epidemia e da dinâmica do próprio processo de treinamento, então é cedo para anunciar qualquer data de retorno das competições estaduais.

Feldman acrescentou que a expectativa da CBF é completar os campeonatos estaduais e iniciar logo em seguida os nacionais, que podem ser esticados até o início de 2021.

Na última sexta-feira, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, avisou que vai endurecer as medidas de isolamento social. Na véspera, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, afirmou à ESPN que "pensar em futebol agora é coisa de débil mental”. Também na quinta-feira, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, prorrogou as medidas de isolamento social na cidade até 15 de maio.

O virologista Amilcar Tanure, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, considera precipitado um possível retorno do futebol no momento em que a pandemia ainda nem alcançou seu pico no Brasil e causa centenas de mortes diariamente.

- Mesmo que joguem em estádios vazios, eles vão ter que treinar, ir a vestiários, tomar banho... Tudo isso aumenta a chance da transmissão do vírus. Minha pergunta é: por que expor esse pessoal ao risco de se contaminar e alguns terem casos graves da doença? Será que não era melhor esperar um pouquinho? Acho a ideia muito arriscada - disse Tanure.

O exemplo de São Paulo

O estado de São Paulo teve o primeiro caso confirmado, a primeira morte e concentra o maior número de infectados. O governo estadual decretou medidas de isolamento social até o dia 10 de maio, domingo que vem. O governador João Dória vai anunciar os passos seguintes na próxima sexta-feira (dia 8). Mas a escalada no número de mortes e a situação específica da capital tornam ainda mais difícil fazer previsões sobre a volta do futebol.

Nesta segunda-feira (4 de maio), a Federação Paulista de Futebol, os clubes e o infectologista David Uip vão voltar a se reunir por videoconferência para tentar elaborar um protocolo de medidas de segurança sanitária para a volta aos treinos. Em reuniões prévias com médicos dos clubes, Uip deu dois recados que desencorajaram os dirigentes mais esperançosos com uma volta rápida das competições em São Paulo.

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