Mulher no esporte é resistência


  • Criado por: Adriana Diniz
  • Postado em: 27/09/2022

O que é ser uma mulher que vive o esporte? Mulher no esporte é resistência, é querer mais, é não se contentar com crenças limitantes e deixar que, muitas vezes, restrições te impeçam de seguir em frente. É querer provar para si, por meio do esporte, o quão forte e capitã da sua própria vida podemos ser.

Em grande parte do mundo, o simples fato de ser mulher é um desafio muito grande. Pouca inserção no mercado de trabalho, cargos e salários desiguais aos dos homens, poucas oportunidades, falta de respeito, violência, feminicídio, assédio, entre tantos outros percalços fazem parte da vida das mulheres até hoje.

Apesar de uma consciência dessas problemáticas e de ações para mudá-las estejam tomando corpo gradativamente, muito ainda tem que ser feito para a igualdade de gênero ser alcançada de fato.

No esporte, essa disparidade e a dificuldade de inserção e destaque feminino podem ser facilmente observadas. Antigamente, a maior parte das modalidades era composta apenas por times masculinos, como futebol, por exemplo, já que era considerado um esporte “de homem”. E esse conceito surgiu bem lá atrás, na Grécia Antiga, onde se acreditava que as mulheres ficariam masculinizadas com exercícios, além de considerarem que elas não tinham condições físicas para a prática de esportes.

 

E essa luta vem de longa data. Há cerca de 80 anos tínhamos um decreto-Lei que não permitia a prática esportiva entre as mulheres, pois apontava incompatibilidade da "natureza feminina" com os esportes. De 1965 a 1979 não era permitida a prática de lutas de qualquer natureza por elas, assim como outros esportes. Essas medidas, sem dúvida, deixaram marcas em nossos resultados esportivos e no engajamento de mais mulheres no esporte brasileiro. 

Somente em 1996, as atletas brasileiras conquistaram a primeiras medalhas olímpicas femininas do Brasil. E isso foi apenas há 25 anos.

 

 

Meninas e esporte:

Na puberdade, em função das pressões sociais e dos estereótipos de gênero, a autoestima das meninas tende a cair duas vezes mais do que a dos meninos, e 49% das meninas abandonam a prática esportiva, porcentagem seis vezes maior em comparação com os meninos.

Nessa fase da vida, os estereótipos de gênero e a linha que divide o que é considerado adequado às meninas e aos meninos começa a ficar muito mais evidente. Enquanto as meninas são submetidas a um controle e uma vigilância muito mais severa sobre seu corpo e sexualidade, há também uma objetificação muito maior de seus corpos pela sociedade e pelas diversas representações midiáticas.

É claro que os meninos também passam por uma série de pressões associadas a modelos perversos de masculinidade e a entrada na adolescência pode ser um processo muito doloroso para eles também. No entanto, em geral, nessa fase, eles são estimulados a ocupar o espaço público e desenvolver suas habilidades de liderança, autonomia e convívio social. Para os meninos, este é um momento de conquista de poder, enquanto as meninas começam a ser cada vez mais limitadas e privadas dessa ocupação e expansão.

Por meio da prática esportiva, as meninas adquirem uma série de habilidades transferíveis para outras áreas da vida, como o ambiente de trabalho e as relações humanas. Por exemplo: aprendem a ter disciplina, trabalhar em equipe, respeitar as regras e jogar de forma justa, manter o foco e a persistência para alcançar metas bem estabelecidas etc. Em outras palavras, seus ganhos “em campo” possibilitam ganhos “fora de campo”.

Aliar a prática de esportes à criação de espaços seguros é fundamental para que as meninas possam se conhecer e se desenvolver livres dos preconceitos de gênero. Nesse sentido, o esporte potencializa o desenvolvimento de autoestima, liderança, conhecimento sobre o próprio corpo e sobre direitos. Investir na liderança de meninas e mulheres jovens por meio dos esportes é uma metodologia efetiva para eliminar as desigualdades de gênero e modificar percepções, atitudes e comportamentos que causam ou justificam a violência.

Em 2030, marco para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – incluindo o ODS 5, que visa à igualdade de gênero –, as meninas adolescentes de hoje serão jovens mulheres, que devem estar preparadas para ocupar e liderar os espaços que lhes são de direito.